30/01/2024

Mundo Novo & Natura Naturans trabalhos recentes de Ilidio Salteiro e Dora Iva Rita

 

AS COISAS QUE EU FAÇO E DESENHO

Obras de Dora Iva Rita

 

Em primeiro lugar, há que andar um pouco à roda da palavra «coisas»… Coisas vivas ou inanimadas, produtos da Natureza ou fabricados pelos humanos – todas essas «coisas» foram objeto da curiosidade da Pintura desde a Antiguidade Clássica aos nossos dias, dando origem a um género, a chamada Natureza Morta, que, talvez poucos saibam, começou por ser designada, em finais de Quinhentos e inícios de Seiscentos, pela interessante expressão «Instantes suspensos de vida», ainda hoje presente na versão anglo-saxónica Still Life ou Still Leben… Pretendiam os primeiros pintores barrocos congelar o instante e, no caso da Natureza Morta, o famoso Jan Brueghel almejava a que a Pintura conseguisse «superar» a Natureza, apresentando grandes jarras com flores frescas de todas as épocas do ano, que ele ia pintando ao longo dos meses e das estações, surpreendendo o espectador da época que via juntas espécies de janeiro ou março que já estariam secas quando floresciam as de outubro ou dezembro…

Não são, naturalmente, essas as preocupações de Dora Iva Rita, embora os processos de registo ou de composição possam ter algumas dessas boas referências… Dora Iva também constrói as suas assemblages de «coisas», umas resultantes da Natureza outras claramente fabricadas pelo engenho humano, e, em quase todas elas, há qualquer coisa de «ninho», não só pela forma e pelos materiais, mas sobretudo pelo simbolismo associado à geração da vida, aqui como que suspensa, sem os desabrochamentos imediatos que se pressuporiam, embora se adivinhem voos, e portanto desenvolvimentos vitais, nos elementos circundantes, que tanto evocam asas de ave como velas de barcos ou até pétalas abertas de uma corola… Em suma, evocação de Vida, apesar de estarmos a ver objetos aparentemente inanimados.

Já os desenhos narram outras histórias… Alguns são claramente exercícios de registo e variação sobre as assemblages, mas, ao introduzir novos ângulos de visão, elas transfiguram-se, perdemos, até, a referência da sua materialidade original, tornam-se outras obras, frescas revisitações ora de um certo aconchego do ninho ora das esvoaçantes pétalas ou velas que anunciam o desabrochar de uma pulsão vital, erótica…

Em muitos outros casos, porventura a maioria, perdem-se completamente as referências às «coisas» das assemblages expostas para nos concentrarmos nas referências a outras «coisas» que estão sempre na origem desse olhar milenar da Pintura, vestígios da Natureza, arranjos quotidianos desses vestígios, composições feitas de combinações desses vestígios e de objetos do quotidiano, numa infinita variação sobre os mesmos motivos que nunca se esgota porque é o renovado olhar sobre cada um deles e sobre os conjuntos que aleatoriamente se podem formar, é esse olhar da pintora que se reinventa incessantemente.

Esta exposição, que desvenda um olhar predominantemente «micro» sobre as «coisas», aparece numa espécie de cubo construído ao centro de uma outra exposição, que o rodeia, de pintura do companheiro de Dora Iva, Ilídio Salteiro, que explora espacialidades vastas e construídas do seu imaginário, em formatos generosos, em contraste com os formatos «intimistas» no interior do cubo, proporcionando-nos uma extraordinária e rara complementaridade de visões e de modos de fazer que enriquece e muito a Pintura Contemporânea.

 

Janeiro de 2024.

Fernando António Baptista Pereira


ESPAÇOS E CONSTRUÇÕES, LUGARES DO IMAGINÁRIO

Sobre a Pintura de Ilídio Salteiro

 

Quando olhamos para o conjunto das pinturas de grande e médio formato que Ilídio Salteiro expõe no grande salão da Sociedade Nacional de Belas Artes percebemos, quase de imediato, que um denominador comum emerge: a relação multímoda entre espacialidades e construções no universo imaginário de uma pintura que, acima de tudo, interroga fronteiras entre géneros seculares na História da Pintura e entre modalidades do próprio «fazer» pictórico.

Sejam visões de paisagens imaginárias a partir de ou ao lado de imagens de interiores construídos em formas límpidas e luminosas, sejam construções imaginárias que, numa geometria muito criativa e sem quaisquer preocupações de «funcionalidade», envolvem, contém ou separam imagens exuberantes e sensuais de paisagens inventadas, com vagos referentes – é este o «pano de fundo» cenográfico em que se ensaiam relações muito sábias entre o desenhar e o pintar, entre manchas violentas, matéricas e eloquentes que definem formas, volumes e profundidades e apontamentos subtis de desenho que desafiam os ilusionismos evocados e nos sublinham que estamos sempre e só diante do esplendor da Pintura e do Desenho nos seus infinitos avatares...

Há, certamente, para além de uma manifesta sensualidade da execução, mensagens subliminares, algumas das quais nem o autor conseguirá controlar, simbolismos procurados no número das composições de certas temáticas, quase como num ritual ou numa espécie de litania que ele nos quer recitar na calma e na serenidade da sua personalidade de artista, e, até, saborosas citações de grandes mestres da História da Pintura que, como o compasso no olhar que reivindicava Miguel Ângelo, já fazem parte da memória de todos os artistas, quer das imagens que a toda a hora se convocam, quer do fazer que se materializa na superfície das telas.

Mas o que acaba por prevalecer é uma atitude claramente meta-pictural em que se reinventa a possibilidade de uma Pintura, nos dias de hoje, que não é, uma vez mais e apenas, uma «paisagem da Pintura» ou uma «paisagem do fazer», mas, além de tudo isso, uma reflexão inovadora e pertinente sobre a fluidez dos limites dos géneros consagrados e desconstruídos na história recente e, sobretudo, das modalidades técnicas que distinguem e fazem conviver e interpenetrar o inefável prazer espiritual e o deleite sensual de desenhar e de pintar.

Esta exposição, que nos revela um olhar claramente «macro» de espacialidades vastas e sensuais e de construções engenhosas desenhadas e pintadas para com elas dialogarem, envolve um outro espaço expositivo mais pequeno, ao centro, que se encontra povoado, em absoluto contraste, por uma visão «micro» dos objetos e dos desenhos realizados pela companheira de Ilídio, Dora Iva Rita, numa interessante complementaridade de modos de ser e de estar na Pintura, na continuidade de tantas outras que a História e tempos mais recentes conheceram e divulgaram, que vivamente se deve saudar e acarinhar!

 

Janeiro de 2024.

Fernando António Baptista Pereira



05/01/2024

Mundo Novo & Natura Naturans

 Press Release

Mundo Novo & Natura Naturans

Exposição de Ilídio Salteiro e Dora Iva Rita no Salão da SNBA

 

Local: Salão SNBA

Inaugura dia 6 fevereiro, às 18h30.

Estará patente até dia 2 de março 2024.

Aberta todos os dias das 12h00 às 19h00, exceto domingos e feriados.


Ilídio Salteiro, 2021. Óleo sobre tela, 100 cm x 10 cm.

Dora Iva Rita, 2023. Aguarela, 24 cm x 30 cm.

O Salão da Sociedade Nacional de Belas Artes recebe duas exposições dos artistas Ilídio Salteiro e Dora Iva Rita.

Ilídio Salteiro (n. 1953) desenvolve o seu tema em torno da paisagem e do território, sobrepondo ficções e narrativas com uma revisitação ao mundo imaginário da pintura.

Os trabalhos de Ilídio Salteiro são o resultado de um processo artístico com início em 2018, em torno de uma ideia de Babel entendida como metáfora do mundo novo que se vem instalando, sobre valores de bem e de mal cada vez mais líquidos. A opção pela pintura a óleo resulta da valorização dos modos ancestrais de fazer arte, num tempo onde reina o imediato, o efémero e o ocasional.

O processo artístico de Ilídio Salteiro vai absorvendo as dinâmicas de pré-pandemias, pandemias e pós-pandemias, vai vivendo entre a incerteza e a certeza de muitas guerras, ao mesmo tempo que se confronta com a necessidade emergente de ancorar a sobrevivência da inteligência humana em inteligências artificiais.

 Dora Iva Rita (n. 1954) apresenta aguarelas e objetos que exploram as correspondências telúricas entre o amor e a morte, num abraço dos seres e das terras.

Cada uma das suas pinturas é antecedida por um suporte, efémero ou físico, construído como objeto, escultura, ready-made ou assemblage. Estes objetos agregam os mesmos pressupostos da pintura: uma arqueologia do contemporâneo. São frágeis na sua constituição eclética com elementos silvestres, têxteis e cerâmicos (ninhos, ramos ou pedras, o têxtil onde o algodão é enformado com colas e terracota, onde se ensaiam técnicas ancestrais, como o brunido, engobes e esgrafitado).

Para Dora Iva Rita a Pintura apresenta-se como atitude reflexiva e de debate sobre as questões da humanidade no mundo.


29/12/2023

Centro do Mundo

Texto lido pelo autor, Ilídio Salteiro, sobre Arte e Pintura e sobre o projeto de Pintura intitulado o Centro do Mundo, apresentado e exposto em 2013 no Museu Militar de Lisboa.


 

30/06/2023

Sou pintor.

 


Se todo o ser humano é um artista isso significa que eu também sou artista: eu, o meu amigo e todos os nossos demais conTERRÂneos. Este facto deve-se à livre possibilidade de acessos e de direitos conquistados pelas sociedades democráticas durante a segunda metade do século XX. Uma conquista vislumbrada inicialmente por Marcel Duchamp, corporizada efetivamente por Joseph Beuys e vivida comumente nas sociedades pos-modernas e globalizantes atuais, onde a Arte convive com o lazer, a festa, o festival, o consumo, o mercado, a terapia, a pedagogia e com o conforto económico e social global: uma convivência fraterna com conceitos abertos de ambiente, natureza e vida.

Mas, para além desta minha qualidade de artista (ser humano), sou cada vez mais aquele que procura respostas construindo propostas através da Pintura: sou pintor!

Ilídio Salteiro, 2023


21/05/2023

Personagens Insustentáveis de António Garcia Lopez



 Personagens Insustentáveis de António Garcia Lopez

Em Personajes Insostenibles, temos uma exposição de António Garcia Lopez que traz para o debate no mundo da arte a relação entre estética e temáticas sociais, ambientais e artísticas. Verifica-se também, perante o seu modo de produção artística, que a colagem não é apenas uma tecnologia para realizar composições pictóricas. Nele, ela é um modo de reutilizar o manancial absolutamente excessivo de imagens que diariamente nos assediam com propostas de infindáveis produtos e de muito discutíveis modos de estar e ser. E também nos mostra, muito claramente, uma visão de um mundo construído em torne de uma sociedade híperconsumista, embriagada pelo consumo de futilidades e pateticamente aderente a todo um perigoso universo de efemeridades que colocam em risco a sociedade humanista de hoje que tanto nos custou a construir. Finalmente sentimos em toda a sua obra um forte apelo para que tenhamos uma atitude mais sustentável nos nossos atos.

São estes três pressupostos que têm sido o alimento essencial da obra de AGL nos últimos anos. Os anos em que nos conhecemos e nos quais estes temas foram motivo de conversas, debates informais, troca de opiniões e cumplicidades em projetos artísticos e curatorias, sempre que as circunstâncias dos momentos os propiciaram, nos espaços de muitas instituições entre Lisboa, Múrcia e Valencia.

Pode ser constatado nos trabalhos expostos que AGL aprofunda a sua perspetiva de visão para o mundo, continuando a exploração da estrutura compositiva do género do retrato materializado através da colagem que, revelando ter capacidade para subverter a tradição renascentista, também consegue realçar um seu modo dadaísta de ser, fazer e ver o estranho espaço que ocupamos no tempo presente (Freud, 1919).

O processo da colagem, tem sido o seu grande recurso desde 2000, contabilizando um grande número de exposições. É um processo de criação artística que resulta de uma rigorosa investigação em arte onde se referenciam ascendências artísticas, culturais e conceptuais de artistas como Josep Renau (1907-1982) ou Francisco Goya (1746-1828), nomeadamente a obra gráfica, dando continuidade a uma escola de pintura espanhola genuína quanto às suas características expressivas.

Como escreve AGL na nota de imprensa para esta exposição as suas colagens …son literalmente “re-collages” que pretenden componer y explicar el mundo que nos rodea, es un laboratorio para las ideas, un campo de batalla sin fin, la suma de estratos y capas de nuestra historia pero también de la “basuraleza” que hemos generado, una forma de reinventarse a partir de la propia experiencia, es en definitiva lo que ha venido haciendo la pintura a lo largo de toda su tradición y lo que la mantiene tan presente y tan viva en el resto de manifestaciones artísticas»…

Mas nestas obras, sob a designação de Personajes Insustentabiles, AGL quando utiliza a sua própria expressão pictórica como elemento de composição que sugere uma sensação de espaço expressionista e gestual ao serviço dos enquadramentos ou contextualizações de todo o conjunto, salienta um elemento pictórico novo: a textura como matéria. Sobre espaço vão sendo acumulados recortes de muitas imagens com outras posições e escalas, desempenhando o papel de protagonistas dos espaços e das narrativas como personagens ou atores do mundo contemporâneo. Um mundo onde o valor das coisas já não é determinado pelas dimensões humanistas, estéticas, culturais, antropológicas ou sociológicas, mas é apenas determinado pelo valor atribuído por um sistema regulado pelas leis da oferta e da procura: o dinheiro.

Antonio García López é um artista / pintor que desenvolve a sua atividade entre Múrcia e Valência, que deixa perceber na sua obra um conhecimento culto do classicismo hispânico e europeu sob o desígnio de uma visão sarcástica, mordaz, crítica e interventiva sobre a distopia da sociedade contemporânea globalizante e autocolonizadora. Isto corresponde a um modo de estar muito especial porque coexiste com o tempo da apologia do entretenimento e da efemeridade das coisas, dos atos e dos compromissos. Num tempo em que impera cada vez mais uma inteligência artificial neoimperial, governadora global de todos nós, a atitude estética do AGL torna-se relevante pela coragem do olhar, do ver e do decidir, sabendo fazer uso do pensamento humanista implicado na criação artística sem efeitos digitais fúteis.

Apela militantemente ao nosso entendimento em vez de apelar apenas ao olhar. As obras que nos apresenta são pensamentos materializados como se fossem primeiras páginas de muitos livros abertos prontos a serem partilhados com o outro, ao qual se exige que, para além desse olhar primeiro, use a sua aptidão para entender e fazer juízo sobre o seu próprio universo. Cada obra é por isso um médium com a função de promover mais pensamentos, mais ideias e mais opiniões, mais energia. Um médium feito com maestria do domínio das artes de fazer formas plásticas, e com acutilância critica dirigida para a paisagem sociológica que vivemos.

Em El Paracaidista (2020) temos uma composição protagonizada por um barrete vermelho a servir de paraquedas a um pedaço de um rosto de alguém que parece exprimir uma simpatia afável. Nesta obra somos levados a pensar nas estratégias subliminares que se artilham, através de apelos necessidades de consumo absurdas dos quais a figura do Pai Natal é uma delas, com o objetivo se submeter um território ou uma cultura a outras formas de colonialismo.

A facilidade com que obtemos imagens figurativas, abstratas, fantásticas, reais ou ficcionadas é estonteante. É igualmente estonteante a diversidade de meios existentes para que as obras feitas adquiram corpos diversos através de remediações sucessivas (David Bolter, 2000). Todas estas remediações possíveis nos arrastam para um tempo em que imagem e artes visuais se confundem com pintura. Momentos em que pintura se confundo com uma tecnologia, ou seja, momentos em que olhar o mundo não basta para o entender. Inteligência, raciocínio, opinião ou razão são recursos humanistas absolutamente indispensáveis para a sobrevivência universal.

O formalismo estruturante da sua obra, marcado culturalmente pelas raízes da sua formação, está bem sustentado com todos estes Personajes Insostenibles, intitulados de um modo limpido: el sostenible, el reciclado, los ecológicos, la última cima, alta resistência, los insectos, consumidores compulsivos, la criada ou Noé y su arca. Sustentabilidade, reciclagem, ecologia, consumo ou ameaça apocalíptica são os assuntos que hoje condicionam os nossos comportamentos mais básicos. Personagens construídas por colagens de um rigor expressionista que nos remete claramente para duas questões: a primeira será a colagem como primórdio essencial da Pintura a qual se concretiza apenas pela capacidade que os médiuns (seivas, resinas, óleos ou químicos) têm para colarem outras matérias (pigmentos, cor e textura) sobre muitos suportes (Salteiro, 2018). A segunda será a assunção da expressão visual do pensamento que, para se formalizar, recorre a todas as tecnologias disponíveis.

Mas a expressividade maior, plástica e conceptualmente, que se manifesta claramente nas obras de AGL advém da sua identidade de valenciano marcado pelas ricas manifestações tradicionais das Fallas. As Fallas são uma tradição com raízes medievais que celebram o equinócio da primavera através de queima de obras de pintura / escultura extremamente críticas da sociedade local regional nacional ou mundial, tendo como destino fazer uma grande fogueira com todas elas. Esta festividade anual serve para se queimarem os fantasmas de todos e de cada um, num momento partilhado coletivamente, com muitas interpretações críticas sobre a sociedade.

AGL usa o corte, a colagem, a sobreposição e o confronto, agrupando imagens coletadas em revistas e jornais em composições imbuídas de uma evidente teatralidade fotográfica e televisiva. Depois articula espaços compositivos onde se encenam narrativas comuns do dia a dia, transformando coisas e personagens em marionetas de um ecossistema que atrofia e desvaloriza cada vez mais os pensamentos livres.

Vale a pena ver, refletir e acompanhar os trabalhos de Antonio Garcia López, porque eles demarcam-se da irresistível tendência para considerar a arte contemporânea com tendência global alinhada.

Ilídio Salteiro, 2023

Algumas referências: 

David Bolter, G. R. (2000). Remediation, understanding new media. Cambridge Massachusetts: The MIT Press.

Freud, S. (1919). O Estranho. Obtido de https://conteudos.files.wordpress.com/2016/02/ensaio-o-estranho_freud.pdf

Salteiro, I. (Janeiro Março de 2018). Antonio García López : colagem e politica como processo de pintura. Estúdio, 9(21), pp. 60-66. Obtido de http://hdl.handle.net/10451/38335

26/09/2022

Museo Historico Municipal de Écija - Ayuntamiento de Écija

 


Arte Contemporáneo Portugués en el Museo Histórico Municipal de Écija

 

Una vez más, la ciudad de Écija se ratifica como baluarte del panorama artístico contemporáneo internacional gracias a la apuesta del Museo Histórico Municipal de Écija por el arte de vanguardia. Los artistas portugueses y profesores-investigadores de la Universidade de Lisboa, Ilídio Salteiro y Dora-Iva Rita protagonizan sendas exposiciones individuales  simultáneas comisariadas nuevamente por el ecijano 233, a.k.a. Ramon Blanco-Barrera.

Dicotomía de la verdad, que así se llama el evento expositivo que recoge los proyectos directamente interrelacionados de estos dos artistas, es una investigación abierta y en constante evolución sobre los eternos interrogantes que gobiernan nuestro mundo. A través de una serie de materializaciones artísticas en contraste; pinturas, dibujos, esculturas, instalaciones… de pequeño formato, se erigen pilares y contrafuertes para intentar dar cabida a las múltiples experiencias de búsqueda de la verdad entre las personas.

Por un lado, Ilídio Salteiro (Alpedriz, 1953) expone una propuesta pictórica dual entre la vida y la naturaleza, el bien y el mal, lo desarrollado y lo peregrino, la inadaptación y la evolución. Disecciona preguntas, lanzando respuestas visuales para conectar con lo real a través de un público voraz lleno de signos, gestos y sensaciones.

Por otro lado, Dora-Iva Rita (R.D. Angola, 1954) presenta una especulación de mundos paralelos dibujados y tridimensionados en cerámica, ensamblados e instalados manualmente como si de la Madre Tierra se tratara, y con los que plantea reflexionar sobre el origen de las cosas. Volver al principio para renacer en una dimensión sociológica mayor, sostenible.

Dicotomía de la verdad les invita a su inauguración, que tendrá lugar el sábado 1 de octubre de 2022 a las 12:00 horas en la Sala de Exposiciones Temporales del Museo Histórico Municipal de Écija, con entrada libre hasta completar aforo. Las exposiciones estarán abiertas al público en el horario habitual del Museo, del 1 de octubre al 2 de noviembre de 2022.

26/06/2022

1981-2022

 

Ilidio Salteiro, 2019.
Óleo sobre papel com 100 cm x 150 cm, exposto em 2019 na Fundación Casa Pintada / Christobal Gabarron, Mula, Murcia, numa exposição intitulada «Paisagens de Trezenzónio» sob a curadoria de Olga Pomares e Juan Sandoval.



Atendendo ao facto de expormos aquilo que fazemos, aqui e agora, enquanto esperamos sossegadamente que tudo nos venha parar à mão sem que para tal façamos ou façais alguma coisa.

É preciso sair do ovo! A vida é hoje e não depois. A sorte com que se luta, é preciso fazê-la sair de tudo o que está feito, de tudo o que está vivo e não do que está morto.

Se eles não sabem que o sonho é tela, é cor é pincel, vaso fuste capitel, pináculo de catedral.

É altura de saberem. Já se perdeu muito tempo contraponto sinfonia. Estamos aqui para dizer que existimos. Estamos aqui para dizer que precisam de nós. Que não podem viver sem nós. O Mundo é dos que pensam, dos que sabem pensar, dos que sonham e sabem sonhar.

Um frango só por si não existe. Um galo serve para cantar quando o Sol se levanta no horizonte e ser cozinhado.

Depois vem as silhuetas e as sombras e os homens de bem, os artistas e os poetas, as crianças e os crianços, dizer que assim não pode ser, que assim não se pode caminhar em frente. No abismo ecoa-lhes, o eco. Depois há um acomodar melancólico, um bem-estar encostado a uma parede morta e parva e todas as considerações que se podem fazer á volta dela, pobre coitada. És feia, és bonita, tens os olhos tortos, tens elementos muito agradáveis e desagradáveis, tens muitas dúvidas, não sabes nada, nada… Mas sabes tudo, tudo sem nada saber. Espera que o Sol se ponha e verás! Verás que a luz só existe enquanto existe a matéria, massa de que todos somos feitos. Ah sim. porque não tenhas peneiras, tu, sim tu, és tão ignorante como eu! Tu que estás sozinho a ler isto, que fincas os pés no chão numa tentativa de equilíbrio constante, se queres compreender alguma coisa tira de cá o sentido. Não sabes ver, não sabes pensar, não sabes sonhar. Deita-te, deita-te na cama e conscientemente, começa hoje já a roer na ponta dos pés e acaba só, quando chegares à ponta do último cabelo. Então, e só então, talvez tenhas inventado o sentido, razão, o engenho.



[Ilídio Salteiro, 1981-2022]


Texto para o catalogo da exposição «ARTES PLÁSTICAS», na Galeria da Câmara Municipal da Amadora, de 15 a 23 de novembro de 1981, com o apoio do Centro Cultural Roque Gameiro. Esta exposição teve a participação dos artistas Amadeu Escórcio, Ana Casanova, Dora Iva Rita, Dulce Araujo, Eduardo Nascimento, Henrique Bacelar, Ilídio Salteiro, Joaquim Lourenço, Luis Manuel Vasconcelos, Manuela Jardim, Maria Machado e Maria Morais. 

04/07/2021

Poema para ti

 Ilidio Salteiro, Assurbanipal / Delacroix / Ponte, 2002.




Somos o que escrevemos
Escrevemos o que ouvimos
Ouvimos o que queremos
Queremos o que vemos
Vemos o que sentimos
Sentimos o que somos


10/06/2021

As árvores tanto mais profundam raízes, quanto mais as sacode a ventania

 

Ilídio Salteiro, As árvores tanto mais profundam raízes, quanto mais as sacode a ventania, 2021. Óleo sobre tela, 60 cm x 80 cm.

09/06/2021

Ecos que ainda soam

 


Ilídio Salteiro, Ecos que ainda soam, 2021.Óleo sobre tela, 60 cm x 80 cm

A importância da investigação é crucial para que se cumpra e desígnio do ensino universitário. Um desígnio que se fundamenta na investigação e não na cartilha ou manual escolar. Um desígnio que eleva o livre arbítrio e não se deixa subordinar por regras, normas, definições, conceitos ou preconceitos.

Todos sabemos da importância da investigação, do estudo, da pesquisa, mas, quando falamos de investigação, seja em que ramo do conhecimento for, estamo-nos a referir apenas a metodologias. Porque o mais relevante são os resultados, os produtos, as conclusões ou sejam, as hipóteses de novos rumos que se vão colocando, que se delineiam, planificam e partilham.

No quadro deste reconhecimento e no momento atual e específico, quando se pensa numa escola de Belas Artes integrada numa Universidade, é muito necessário considerar tanto a investigação em contexto universitário, como o pragmatismo comercial e empresarial do mundo da arte.

Falando metaforicamente é necessário considerar o laboratório farmacêutico em paralelo com a farmácia. Ou seja, distinguir o produto de consumo da investigação que lhe deu origem. Ambas possuem de valores que se complementam, mas não podem ser considerados com os mesmos parâmetros.

Por um lado, temos o conhecimento original, por outro lado temos um número infindável de aplicações.

O produto vive da concorrência, da procura, da raridade, da funcionalidade e da existência de um sistema exterior, capitalista, liberalista ou outro.

A Investigação vive da pergunta, da experiência e da resposta. Inicia-se uma investigação por causa da vontade de saber, de conhecer, de descobrir, de viver. Vive do pensamento racional, emotivo, intuitivo, contraintuitivo. Vive de experiências exitosas ou falhadas. Vive de muitas perguntas (muito mais perguntas do que respostas). Vive do fazer fazendo, descodificando, descobrindo os rumos que a Vida toma.

Ilídio Salteiro

Lisboa, junho 2021.


Mundo Novo & Natura Naturans trabalhos recentes de Ilidio Salteiro e Dora Iva Rita

  AS COISAS QUE EU FAÇO E DESENHO Obras de Dora Iva Rita   Em primeiro lugar, há que andar um pouco à roda da palavra «coisas»… Coisas vivas...